Se tem um costume que é muito tradicional no Paraná, é o hábito de tomar chimarrão. Para muita gente, aquecer a água e preparar a erva-mate na cuia é compromisso diário. Basta um pouco de água quente, a cuia, propriamente dita, a erva, e a bomba do chimarrão. Em poucos minutos a bebida está pronta.
Mas o “mate”, como se diz aqui no sul do país, é muito mais que uma bebida para quem o aprecia. O chimarrão representa confraternização, roda de conversa. É símbolo do regionalismo e das tradições.
Tradicionalismo
Adepto do tradicionalismo sulista, o conferente administrativo, Hélder Pchegoski, nos recebe em sua casa e nos mostra o grande espaço onde vive, com a esposa e parte dos filhos, no bairro dos Estados, em Guarapuava. O terreno lembra muito uma chácara, com carroças antigas no quintal, cavalos, e até pé de erva-mate. Mas a localização é dentro da cidade.
No terreno da casa dele, há um espaço chamado carinhosamente de rancho, o ‘Rancho Taura’, que até placa de recepção tem, com diversos objetos antigos que remetem à tradição do sul do país. De relógios, telefones, e apetrechos para laçar cavalos, a uma infinidade de relíquias.
Em um determinado cantinho do local, há também variados estilos de cuias e porongos. Na casa de um tradicionalista como ele, o visitante não toma simplesmente o chimarrão, mas também aprender a preparar um “mate” de verdade, segundo ele.
Ao lado de um estruturado fogão à lenha, todo pilchado, com lenços e traje sulista, ele dá uma palinha de como se deve preparar a erva na cuia. “Como se fazia antigamente, à moda bem antiga. Então a gente coloca a erva na cuia e ai a palma da mão apoiando. Chacolha bem para fazer o “topete” da erva. Depois de acertada a bomba, solta o dedo. Está pronto o mate. Servidos?”
O chimarrão é uma bebida que não tem dia e nem hora para ser apreciada. Qualquer momento pode ser uma grande oportunidade de se tomar chimarrão. A esposa do seo Hélder é históriadora. E nada melhor do que ela, que também vive a cultura do chimarrão, para explicar de onde surgiu essa bebida. “O chimarrão ele é uma bebida de origem Guarani, dos indígenas Guarani. A sua área de incidência, a maior parte, é aqui no Estado do Paraná, onde hoje é o Estado do Paraná. Mas na região sul é uma planta nativa. Ela nasce naturalmente dentro da nossa região”, conta Daniela Zorzetti, historiadora e casada com seo Hélder há quase 30 anos.

Casal Hélder e Daniela, no Rancho do Taura, em Guarapuava. O local é parte da casa deles. Foto: William Batista/ Rádio Cultura
Lenda ajuda a explicar a origem do chimarrão
Ela conta ainda que existe uma lenda que explica o surgimento do chimarrão entre os Indígenas Guaranis, que eram um povo nômade e habitavam a região do Paraná. Em uma das mudanças de lugar, um mebro da tribo já não tinha mais forças para acompanhar os demais. A lenda diz que a filha do indígena de mais idade não seguiu viagem para ficar com o pai. Quando ela foi para a mata em busca de alimento, encontrou outro indígena que teria ensinado o preparo da bebida com o objetivo de revigorar o pai dela.
“Ela preparou conforme lhe foi ensinado. Picotou a folha e colocou água quente, água morna, para ele tomar essa bebida. Passado algum tempo o pai conseguiu se recuperar e ela foi de encontro com a tribo. Quando ela chegou foi surpresa: ‘como ele estava lá, vivo, fortalecido?’ E Ela ensinou a bebida aos demais da tribo. É o chimarrão que conhecemos até hoje”, conta a historiadora.
“Os Guaranis estão aqui há mais de dez mil anos. A gente não tem noção de quando foi iniciado esse costume, mas os Guaranis estão na região há mais de 10 mil anos, aproximadamente”, complementa.
Como a folha da erva-mate vira a erva para o chimarrão?
Até virar a erva de chimarrão que vai direto para as cuias, a folha da erva-mate passa por um longo processo industrial até ficar pronto. Nós fomos até uma ervateria de Guarapuava para entender como isso acontece.
“Tudo começa na colheita, desde a seleção dos ervais. A gente hoje tem na empresa um engenheiro agrônomo, que faz a visita na propriedade do produtor, identifica para qual produto a gente vai direcionar. A nossa equipe vai lá no mato, faz a colheita, vem para a indústria. Chega na indústria a gente faz o primeiro processo que é o sapeco, o contato direto do fogo com as folhas, seguido depois do cancheador, que fragmenta as folhas, os talos, em pedaços menores. E segue para o secador. Seca isso e transforma em erva-mate cancheada. O Paraná hoje é o maior produtor em folhas de erva-mate. É aqui que a gente tem a erva-mate que dá um chimarrão suave, espumado”, explica Dayana Lubian Jankowski, dona da ervateria.

Processamento da erva-mate dentro de ervateria, em Guarapuava. Foto: William Batista/ Rádio Cultura
Erva-mate: nativa da região do PR
De acordo com a historia Daniela Zorzetti, a erva-mate é uma planta nativa da região do Paraná. “80% da planta nativa está na região do Paraná. Ela recebeu o nome científico no Paraná, tanto é que ela se chama “Ilex paraguariensis”. Foi identificada botanicamente na região do Paraguai, mas também é muito na fronteira aqui do Paraná onde tem essa incidência da erva-mate”, diz.
Benefícios para a saúde, mas com consumo moderado
Apesar de ser uma bebida quente, o chimarrão não pode ser tomado com água recém fervida. Muito quente, a água queima a erva e o chimarrão perde o saber, sem falar que para quem o bebe assim, não é nada bom. Com esses cuidados em prática, o chimarrão traz muitos benefícios à saúde, desde que o consumo seja moderado, como explica a nutricionista guarapuavana, Michele Dal Santos.
“O excesso de cafeína pode levar a uma insônia, excesso de nervosismo, aumento da frequência cardíaca ou até problemas gastrointestinal por estimular demais essa função. No máximo um litro de água de chimarrão por dia, talvez um litro e meio dependendo da pessoa. Ajuda a melhor a concentração, nosso estado de alerta. Pode ajudar em alguns casos a melhorar a nossa digestão e diminuir também ou prevenir até a constipação intestinal”, afirma.
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