Reportagem de William Batista
Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Guarapuava, trabalha no desenvolvimento de um método que pode substituir no futuro as injeções de insulina por medicamentos via oral no tratamento de pacientes com diabetes. O estudo ainda está em fase de experimentos e não há uma previsão de quando isso pode se tornar uma realidade no mercado farmacêutico.
Hoje em dia, pacientes com diabetes do tipo 1, precisam passar pelo procedimento de aplicar as injeções de insulina diariamente para que ocorra o controle dos níveis de glicemia no sangue. De acordo com Rubiana Mainardes, professora do departamento de Farmácia da Unicentro, atualmente não existe outra forma de tratamento senão os métodos que exigem aplicações na pele.
“Se a gente for pensar no paciente, que vai usar (a injeção) por anos e anos, é uma via nada amigável, nada agradável. Por que são administrados dessa forma? É uma questão química. A estrutura química deles não permite. A gente tem o PH do estômago que é muito baixo, a enzima digestiva. Todo esse ambiente se torna hostil para essas moléculas, então elas não conseguem ser absorvidas. Não tem como utiliza-las na forma de um comprimido, de uma solução. Por isso há décadas é utilizado da forma parenteral”, explica.
A professora coordena uma pesquisa iniciada há cerca de três anos na universidade, que testa uma forma de tratamento menos desgastante para os pacientes com diabetes.
“A gente pensou em tentar desenvolver um sistema nanoestruturado que carregasse tanto a insulina sozinha e uma outra formulação com a da insulina. Um ajuda o outro, acabam tendo ações sinérgicas. Conseguimos desenvolver um sistema que pudesse proteger essas moléculas desse ambiente do estômago, como eu disse, muito hostil para essas proteínas, e que ao mesmo permitisse essa proteção e que essas partículas fossem absorvidas. No sangue, quando elas estão circulando, fizessem uma liberação desses compostos, desses fármacos, de forma lenta, de forma que o indivíduo mantivesse níveis glicêmicos dentro de uma faixa, uma faixa que a gente chama basal, uma faixa normal, ao longo de todo o período”, disse em entrevista à Rádio Cultura.
A Federação Internacional de Diabetes, que reúne 240 associação relacionadas à doença em 160 países, estima que no Brasil 10,5% da população é diabética, sendo que a maioria dos casos, cerca de 90%, é de diabetes do tipo 2. A doença ocorre quando o corpo não usa adequadamente a insulina ou não produz insulina o suficiente para controla a taxa de glicemia.
Mas ainda de acordo com a professora, fazer com que essa proposta se torne acessível imediatamente aos pacientes diabéticos não é algo tão simples. Ela explica que os experimentos realizados até agora foram em ratos, e deram muito certo.
“A gente precisa transpor esse resultado para humanos. Essa formulação precisa passar por ensaios clínicos. Eles não são feitos dentro da academia, dentro da universidade. Requerem parceria com a indústria farmacêutica, com companhias farmacêuticas que realizem esse tipo de ensaio. Para desenvolver qualquer medicamento é um tempo mínimo de 10 anos, porque tem todos esses ensaios, essas burocracias. Levamos quatro anos para chegar nesse resultado em animais, então, tem esse tempo ainda. Esse é o papel da universidade, produzir conhecimento, e conhecimento virar um produto. Só que isso aqui no Brasil é um pouco difícil”, afirma.
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