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Suábios do Danúbio, de Entre Rios, fazem parte dos 200 anos da imigração alemã no Brasil

“A relação com a Alemanha é completa. Por mais que suábios habitassem regiões que não são parte da Alemanha hoje em dia, eles faziam parte dos diversos povos falantes de alemão do leste e sudeste europeu”, afirma historiador.

Suábios ainda na Europa. Foto: Reprodução/ William Batista/ Rádio Cultura

25/07/2024 às 15:32 - Atualizado em 25/07/2024 às 23:06

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Nesta quinta-feira (25), completam 200 anos da imigração dos povos de língua alemã no Brasil. Entre eles, estão os Suábios do Danúbio que ajudaram no desenvolvimento de uma parte da cidade de Guarapuava, no Distrito de Entre Rios.

De acordo com Mauro de Lara Ribeiro Junior, historiador do Museu Histórico de Entre Rios, os primeiros Suábios do Danúbio chegaram na região em junho de 1951, por meio de um projeto de imigração financiado pela Suiça. Foram 500 famílias, com um total de cerca de 2.446 pessoas, que chegaram ao Brasil para recomeçar suas vidas no período pós Segunda Guerra Mundial.

A Rádio Cultura esteve no Museu.

Quem são os Suábios do Danúbio

Conforme o historiador, os suábios são povos falantes do idioma alemão, que habitavam os atuais países da Hungria, Romênia, Sérvia e Croácia. Eles foram para essas regiões iniciar uma colonização, no Século XVIII, e habitaram lá por mais de 200 anos, até serem expulsos desses territórios no contexto da Segunda Guerra Mundial e se refugiarem na Áustria ao final do ano de 1944.

“Os Suábios do Danúbio têm origem no século 17 com as chamadas guerras turcas, que eram guerras entre o Império Germânico e o Império Turco Otomano. O Sacro Império eram regiões de diversos reinos principados e ducados que existiam na região central da Europa, parte hoje da Alemana, e o Império Turco Otamano vinha tomando essas regiões do sudoeste europeu. Quando o Sacro Império Germânico consegue derrotar os turcos otomanos à beira de Viena, que era a capital do Sacro Império, eles expulsam os turcos otomanos da região onde hoje são Hungria, Sérvia, Croácia e Romênia. Nesse sentido, são convocados diversos povos de origem germânica, de diversas regiões do Sacro Império, para povoar essas terras que haviam sido conquistadas dos turcos otomanos. Eles se reuniram em um ducado chamado Suábio, que hoje fica no sul da Alemanha. Foram pelo Rio Danúbio para colonizar essas terras da Hungria, Croácia, Sérvia e Romênia. Naquela época era parte da terra da coroa Austríaca, que também tem parte na história do Brasil e tem origem com os povos de língua alemã no Brasil”, conta.

Mapa ilustra o território ocupado pelos Suábios na Europa. Foto: Reprodução/ William Batista/ Rádio Cultura

Suábios falam o mesmo Alemão da Alemanha?

“Eles falam alemão, parte das pessoas fala, porém os mais velhos falam o dialeto “Hunsrückisch”, que é o alemão com diversas influências de outros idiomas: sérvio, croata, romeno e húngaro, até por eles terem habitado essas regiões por mais de 200 anos e terem origem histórica dessa região”, explica.

Qual a relação dos Suábios do Danúbio com a Alemanha?

“A relação é completa”, enfatiza o historiador. “Por mais que suábios habitassem regiões que não são parte da Alemanha hoje em dia, faziam parte dos diversos povos falantes de alemão do leste e sudeste europeu que migraram tanto para o Brasil quanto outras partes do mundo. Entendemos os alemães como parte de uma identidade cultural ampla e não somente restrito a fronteiras, dentre esses os suábios. Se formos pegar a Alemanha de 1824, de quando os primeiros alemães migraram ao Brasil, ela não era unificada. Existiam diversos principados, ducados, reinos e outros territórios independentes que faziam parte de uma cultura dita germânica e do idioma alemão”, complementa.

Objetos do acervo do museu. Foto: William Batista/ Rádio Cultura

Cooperativa Agrária e a agricultura

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, foi assinado o Tratado de Trianon. A região de colonização de 1,5 milhão de Suábios foi distribuída pelos três Estados sucessores: Hungria, Romêni e Iugoslávia. Os ramos produtivos da agricultura suábia no Sudeste Europeu eram: cereais (trigo, cevada, aveio e centeio). Culturas sachadas (milho, beterraba, sacarina, batata). Culturas especiais (cânhamo, tabaco, legumes). Fruticultura e Viticultura (pomares e vinhedos)

Ao imigrarem para o Brasil, em 1951, os Suábios puderem escolher entre Goiás e o Paraná, e optaram pela região sul por conta do clima mais frio. Aqui, iniciaram o cultivo de culturas de inverno, como a cevada, com as quais já trabalhavam na Europa, no formato de cooperativismo.

“A Cooperativa Agrária surge com o projeto de imigração dos Suábios. Antes mesmo deles pisarem no Brasil a Cooperativa foi fundada, em 5 de maio de 1951. No mês seguinte, eles chegam ao Brasil. Um projeto para construir a comunidade de Entre Rios para desenvolver tanto o trabalho no campo como na comunidade. Atualmente, temos cinco colônias onde a Cooperativa trabalha junto a elas no desenvolvimento social e isso vem desde o início com o projeto. Esse modelo de gestão de trabalhar em comunidade, fez ser o que a Cooperativa é hoje, com a grande estrutura que temos hoje”, conta o historiador.

Painel com a foto de trabalhadoras suábias. Foto: William Batista/ Rádio Cultura

Museu de Entre Rios

Conforme o historiador, atualmente, o Museu Histórico de Entre Rios é o segundo maior museu do mundo sobre a história dos suábios. “A gente reúne um acervo gigantesco, com mais de 65 mil fotografias, 200 mil documentos, 14 mil objetos tridimensionais. O acervo é doado pela comunidade, não existe nada que tenhamos comprado para fazer parte do acervo do museu. A comunidade é muito participativa com o museu”, finaliza.

O Museu de Entre Rios está localizado na Avenida Michael Moor, 1951. O funcionamento de terça à sexta-feira, é das 9h às 12h, e das 13h às 17h. Aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h. Para visitações em grupos é necessário agendamento, que pode ser feito pelo site (www.suabios.com.br), ou pelo telefone que também funciona como WhatsApp: (42) 3625-8316. A entrada é gratuíta.

Fachada do Museu de Entre Rios. Foto: William Batista/ Rádio Cultura

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